Vibrante comício do PCP em Peniche encerra centenário de Álvaro Cunhal e lança comemorações dos 40 anos da Revolução dos Cravos

Defender, afirmar e projectar<br> os valores de Abril

As comemorações do centenário do nascimento de Álvaro Cunhal terminaram no sábado, com «chave de ouro», num grande comício realizado em Peniche, que juntou militantes e simpatizantes do PCP de todo o País. Esta marcante iniciativa assinalou igualmente, no plano partidário, o arranque das comemorações dos 40 anos da Revolução de Abril, à qual Álvaro Cunhal, o Partido Comunista Português e a própria fuga de Peniche estão intimamente ligados.

O 25 de Abril não teria sido o que foi sem Álvaro Cunhal e o PCP

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Um imponente cravo vermelho, impresso na lona que servia de pano de fundo ao comício e onde se lia, em grandes letras vermelhas, «Os Valores de Abril no Futuro de Portugal», dava o mote à abertura das comemorações dos 40 anos da Revolução. O logotipo do centenário de Álvaro Cunhal, o local e a data escolhidos para a realização deste comício, faziam de forma evidente a ligação – óbvia e certeira – entre as duas celebrações.

De facto, não só Abril foi o corolário da luta abnegada, coerente e corajosa de Álvaro Cunhal e do seu partido de sempre, o Partido Comunista Português – sempre ligados às aspirações dos trabalhadores e do povo –, como a Revolução portuguesa não tinha sido possível, e muito menos tinha assumido o carácter antimonopolista e anti-imperialista que inquestionavelmente teve, sem o inestimável contributo de milhares de resistentes antifascistas, com os comunistas sempre mas sempre na primeira linha.

E foi tudo isto que se evocou no vibrante comício do passado sábado: a vida, o pensamento e a luta de Álvaro Cunhal; a corajosa fuga que protagonizou juntamente com outros nove dirigentes e quadros do Partido; o processo que se lhe seguiu, de correcção de erros e desvios na orientação política do PCP e as consequências que teve na intensificação e multiplicação da luta de massas; o derrube do fascismo e a construção da democracia; as conquistas políticas, económicas, sociais e culturais da Revolução e a luta pela sua defesa; a determinação em prosseguir, hoje, o combate pela alternativa patriótica e de esquerda que concretize e desenvolva os valores de Abril.

Como afirmou Jerónimo de Sousa, a terminar a sua intervenção (ver na íntegra nestas páginas), «tal como nesse dia glorioso [3 de Janeiro de 1960] saíram daqui esses valorosos combatentes, saiamos hoje de Peniche, desta terra de resistência e liberdade, para todo o País, com a mesma força, a mesma convicção, a mesma determinação que os animava, para travar o combate pela ruptura e pela mudança de que o País precisa, por um Portugal livre da ingerência estrangeira, por um Portugal democrático e de progresso».

Um combate com futuro

Antes do Secretário-geral do PCP interveio Manuel Rodrigues, em nome da Comissão das Comemorações do Centenário de Álvaro Cunhal. O membro da Comissão Política, após relevar o significado e abrangência das comemorações do centenário, que decorreram ao longo do ano de 2013, lembrou que a prisão do Forte de Peniche, muito embora fosse de alta segurança, revelou-se «demasiado fraca para conter a capacidade organizativa e combativa do PCP que, dentro e fora das prisões, apesar da vida clandestina a que foi obrigado, conseguiu, sempre que necessário, reorganizar-se e implantar-se no seio da classe operária e dos trabalhadores, mas também junto das camadas e classes antimonopolistas, junto dos jovens, das mulheres, dos intelectuais e quadros técnicos, dos democratas e patriotas». Manuel Rodrigues salientou ainda a importância desta audaciosa fuga para que Abril fosse possível, 14 anos depois.

A primeira intervenção da tarde esteve a cargo de Cátia Lapeiro, dirigente da JCP e membro do Comité Central do Partido, que reafirmou o compromisso da organização revolucionária da juventude com os valores de Abril e com a luta pela democracia avançada, o socialismo e o comunismo. A jovem comunista lembrou ainda a realização, a 5 e 6 de Abril, do 10.º Congresso da JCP.

Quando se iniciaram os discursos, já os artistas tinham feito a sua intervenção política. Tanto nas próprias canções que escolheram para a ocasião como no que disseram entre cada um dos temas, a Quadrilha e Paulo de Carvalho foram não só participantes do comício como integrantes activos do combate que o povo português trava em defesa dos valores de Abril e da sua concretização plena na vida do País. 




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<i>Nada poderá deter-nos, nada<br> poderá vencer-nos!</i>

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As palavras do poeta Joaquim Namorado, que dão o título a esta peça, adaptadas pelo maestro Fernando Lopes-Graça para umas das suas «Canções Heróicas», resumem como nenhumas outras o que se evocou nos passados dias 3 e 4 em Peniche: a coragem e a determinação em prosseguir a luta revolucionária quaisquer que sejam as condições, os obstáculos e os perigos. Foi precisamente isso que fizeram os dez dirigentes e quadros do PCP que, a 3 de Janeiro de 1960, protagonizaram uma das mais espectaculares e importantes fugas das prisões fascistas portuguesas. Fugiram, sim, para a primeira linha do combate pelo derrube do fascismo, pela democracia e pela liberdade; fizeram-no quando tudo parecia perdido. E no entanto, Abril aconteceu. Porque eles fugiram. Porque eles, e muitos outros, lutaram, persistiram e resistiram.

Os tempos mudaram, é certo, mas também hoje (e como um dia escreveu Bertold Brecht) os «tiranos fazem planos para dez mil anos» e repetem à exaustão que assim é e sempre assim será, que não há alternativa à exploração, ao desemprego, ao empobrecimento, à emigração. E uma vez mais os comunistas estão na vanguarda da luta popular, organizando, estimulando e mobilizando para que os valores de Abril estejam presentes no futuro de Portugal.

Nas páginas seguintes dá-se conta do que se passou em Peniche no passado fim-de-semana: a inauguração de uma exposição, da responsabilidade do município e da URAP, que ficará patente no Forte durante um ano; a recriação da fuga que teve lugar precisamente 54 anos antes; e o grande comício do PCP que encerrou a celebração do centenário do nascimento de Álvaro Cunhal e abriu as comemorações dos 40 anos da Revolução de Abril.

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